Haruka Fujita é a diretora de Violet Evergarden: Gaiden – Eien to Jidou Shuki Ningyou (Violet Evergarden Side Story: Eternity and the Auto Memory Doll) longa-metragem produzido pela Kyoto Animation, a animação estreou nos cinemas japoneses no dia 06 de Setembro de 2019, embora o período de exibição do filme originalmente de apenas duas semanas, ele foi exibido por pelo menos cinco semanas. Tendo arrecadado um total de 641.980.500 ienes (cerca de US $ 5,98 milhões).
Fujita, estreou na direção em Violet Evergarden Gaiden, ela compartilhou suas experiências durante a pré-produção, o processo de animação e as perspectivas positivas que ela manteve durante todo o processo de desenvolvimento do longa-metragem.
Esta entrevista foi publicada no livro “Violet Evergarden Side Story Movie Pamphlet Brochure Book Kyoto Animation” (Pamphlet let Violet ・ Evergarden Gaiden Eternity and Automatic Handwritten Doll), e foi gravada originalmente em 16 de Julho de 2019, dois dias antes do ataque criminoso ao Studio 1 da Kyoto Animation, posteriormente traduzida do japonês para o inglês por Ultimatemegax e publicada no site SakugaBlog por kViN no dia 15 de Abril de 2020.
A série de Light Novels homônima escrita por Kana Akatsuki e ilustrada por Akiko Takase, foi adaptada pela Kyoto Animation e inspirou a produção de uma série de TV com 13 episódios, 1 OVA e o longa-metragem Violet Evergarden Side Story: Eternity and the Auto Memory Doll, todos atualmente disponíveis para o público brasileiro no acervo do serviço de streaming Netflix. O segundo longa-metragem produzido pela Kyoto Animation, Violet Evergarden: The Movie tem estreia prevista para Abril de 2024.
Em certo ponto no tempo, no continente de Telesis. A grande guerra que dividiu o continente em norte e sul terminou após quatro anos e as pessoas estão entrando em uma nova era. Violet Evergarden, uma jovem conhecida anteriormente como “A Arma”, deixou o campo de batalha para começar uma nova vida no serviço postal. Lá, ela fica profundamente comovida com o trabalho das “Auto Memories Dolls”, que carregam os pensamentos das pessoas e as convertem em palavras. Violet começa sua jornada como uma Auto Memories Doll, e se depara com as emoções de várias pessoas e diferentes formas de amor.
Isabella, é a jovem herdeira da grande e nobre casa de York, ela frequenta uma escola para jovens recatadas, como um “contrato” com seu pai. Para ela, este belo lugar onde camélias brancas florescem nada mais é que uma prisão. Tendo abandonado todas as esperanças e expectativas por seu futuro, Isabella conhece sua nova professora de boas maneiras, Violet Evergarden.
Por favor, diga-nos como se sentiu quanto a liderar um projeto pela primeira vez com este filme.
Me sinto aliviada. Olhei aqui no notebook que usei durante as reuniões de roteiro e vi que usei desde Setembro de 2018. Parece que o ano em que trabalhei neste filme passou num piscar de olhos. No entanto, também parece que demorou tanto tempo para chegar a esse ponto.
Quando eu estava desenhando os storyboards, ficava pensando em como esse trabalho ia acabar ficando. Às vezes parecia que eu estava andando descalça numa estrada de cascalhos. Eu ficava direto sentindo pedras sob os meus pés… mas, ao terminar o processo de storyboard e concluir várias etapas ao longo do caminho, pude virar a cabeça e fiquei surpresa de como algo que começou com um pequeno passo à frente tinha nos levado tão longe. Eu nunca seria capaz de fazer tudo isso sozinha. Eu amo esse título – e isso inclui o processo de criação também.
Sobre o que você conversou em suas reuniões com o supervisor Taichi Ishidate e o compositor Reiko Yoshida?
No começo, Violet Evergarden Gaiden não era para ser um filme, mas um OVA com dois episódios extras de 20 minutos. O plano era pegar uma história dos livros que ainda não tivesse sido adaptada e adicioná-la essencialmente como dois novos episódios da série – foi isso que Yoshida nos apresentou como ideia inicial. A partir daí, o projeto aos poucos foi crescendo até se tornar um filme que punha Violet num papel de protagonista menor, caminhando entre as histórias de Isabella e de Taylor em cada metade. Adicionamos Gaiden (literalmente, “história paralela”) ao título porque, pessoalmente, eu acho que não se afasta muito da série de TV, então parecia mais uma adição a ela do que um trabalho independente.
A série de TV era uma compilação de histórias sobre o crescimento da própria Violet. Os telespectadores que assistiram à série adorariam essas lembranças agridoces ao ver uma nova adição à série, então, tendo os sentimentos dessas pessoas em mente, escolhi adicionar uma série de emoções inabaláveis dos personagens neste trabalho. Foi por isso que criei o filme da perspectiva da própria Isabella.
Além disso, Ishidate tanto participava das reuniões de roteiro quanto verificava os storyboards. Basicamente ele examinava as partes técnicas dos storyboards. Eu tendo a inserir closes sem mudar de ângulo/posição, então pedi a ele para dar uma olhada nesses tipos de detalhes, para que houvesse um significado necessário por trás desse tipo de apresentação.
Falando nisso: tem um ângulo de câmera para os personagens nem tão perto nem tão longe bastante recorrente, que cria uma sensação de proximidade mas não chega a ser perto demais – tipo uma lente natural. Parece que você usou bastante isso nesse filme. Você não fica nem encarando os personagens nem se sentindo muito distante. O que a fez escolher essa distância neste filme?
Eu posso ficar muito exigente quanto à localização da câmera. Fora que já mudamos o tamanho da tela para uma proporção mais larga do que a de quando trabalhamos na série de TV, provavelmente íamos precisar aumentar essas porções, pra começo de conversa. No entanto, mesmo a largura sendo maior, eu tinha que me lembrar de não exagerar no comprimento e na distância ao criar os conceitos. Para dar um senso de realidade pelos visuais, achei que devíamos criar a ilusão de que os personagens estariam num grau crível de proximidade, ao olhar pra eles. Além disso, eu queria valorizar a estética ocidental em cada cena que tivesse ela, exibindo sua beleza o máximo possível.
Desta vez pudemos pesquisar locais na Alemanha, então usamos bastante os lugares que observamos naquele tempo como referências. Fiquei tão grata de podermos ter locais de verdade pra nos basearmos. Comparado ao Japão, especialmente as partes mais modernas, é simplesmente um outro mundo; os animais são diferentes, as portas são maiores do que você imagina, o teto é alto e as paredes são grossas… embora eu tenha me surpreendido com o quão apertado é o lado de dentro do castelo que usamos como referência para a escola das meninas. Parecia bem grande por fora! Essa foi uma descoberta que eu não teria feito se não tivéssemos visitado de verdade. As portas eram tão grandes que você não podia usá-las normalmente como portas; a porta em si tinha uma portinha menor por causa disso. Enquanto a examinava, pensei em coisas como “por que criariam uma porta assim?”
Eu queria expressar a atmosfera em torno do local o mais próxima possível da vida real. As árvores amontoadas e as cores da floresta, a beleza da luz espreitando pelos vitrais, e até as partes escuras eram importantes para mim. Como a equipe de apoio também foi coletar referências, sinto que conseguimos expressar as cores e as partes atmosféricas desse local iguais como são na vida real.
Se eu fosse salientar algo mais a respeito da arte de plano de fundo deste filme, seria que a escola das meninas na primeira metade do filme está situada no Reino de Drossel, introduzido no episódio 5 da série de TV. Para expressar isso, as flores que ficam por toda a escola são as flores reais do Reino de Drossel, a Camélia Branca. E para reforçar a sensação de escola de meninas na floresta, não incluímos nada muito enfeitado em seu ambiente que chamasse a atenção. Embora Ishidate supervisionasse várias coisas assim, ele sempre mantinha meus desejos, o que eu queria mostrar, e minha visão com o maior respeito, então fazer isso pra mim pareceu que eu estava só flutuando toda despreocupada. (risos)
Embora você diga despreocupada, houve algum ponto que a incomodou?
Não sou muito do tipo que se preocupa com esse tipo de coisa, então na verdade não. (risos) À medida em que adicionamos diretores de unidade e a equipe principal de animação foi montada, a profundidade do título em si também aumentou gradualmente. Eu podia estar na posição de diretora, mas, talvez devido à minha própria falta de experiência, nunca cheguei a me preocupar muito com a equipe ao meu lado.
Houve algum ponto nos storyboards que demorou pra ser feito?
A primeira metade demorou um pouco. Tinha tanta coisa que eu sentia que tinha que mostrar, que colocar tudo nos storyboards em si levava muito tempo. Mas como eu já tinha pensado na direção que queria tomar com aquela primeira metade, consegui desenhar os storyboards da segunda metade sem problemas.
Antes de começarmos a produção de Violet Evergarden Gaiden, houve uma reunião com todos os funcionários da Kyoto Animation e da Animation Do, então na ocasião eu fiz um discurso como diretora. Na época, eu disse que desenharia storyboards que deixariam todo mundo ali morrendo de vontade de trabalhar nesse título – isso com certeza era eu querendo parecer melhor. Aí depois disso eu não conseguia mostrar a cara para a equipe quando tínhamos nossas reuniões. (risos) Embora eu mesma tenha criado esse obstáculo para mim, estava tão relaxada que me sentia capaz de lidar com esse título com facilidade. Como a equipe de animação de quadros-chaves chegou na mesma hora com várias perguntas que tinham curiosidade, tivemos inúmeras conversas sobre o trabalho que precisava acontecer.
Que reuniões você teve sobre o design dos personagens?
Os personagens que aparecem na primeira metade foram todos feitos basicamente por mim e pelo designer de personagens (Akiko) Takase. Na segunda metade, Ishidate também participou de nossas reuniões. Lembro que Cattleya, Erica e Alice foram aprovadas sem problemas. No entanto, tivemos muitas preocupações quanto à própria Violet. Como ela é uma existência um tanto imutável dentro de um período de constante evolução, a representação do crescimento de Violet nunca correspondeu à natureza em constante mudança do cenário. Ela se adapta copiando outros personagens quando eles fazem coisas como trocar de roupa e se pentear, mas determinar o quanto a própria Violet evoluiu é um desafio. Se mudássemos demais ficaria estranho, mas precisávamos enraizar o crescimento de Violet em mudanças concretas. Além disso, como a silhueta dela não era pra mudar muito, um certo designer chamado Takase também ficou preocupado que contrastaria demais com a série de TV, se a gente exagerasse (risos).
Que tipo de direcionamentos você tinha quanto a novos personagens como Isabella e Taylor?
Tenho certeza de que dei várias direções, mas tudo que consigo me lembrar agora é de ter dito para se divertirem no processo. Pensar nos designs e cores era tão agradável! Para falar a verdade, Takase e eu ficávamos presos em situações em que tudo o que podíamos dizer um ao outro era como estava ficando fofo. Tivemos conversas em que usamos inúmeras variações de “ai que fofo!” (risos)
Desta vez você mudou a resolução da tela para corresponder à proporção de cinema de 2,31:1 comparada à resolução de 16:9 das séries de TV. Qual foi a intenção por trás dessa mudança?
A ideia de tentar isso sempre circulou pela equipe. No entanto, não queríamos só mudar a proporção e pronto sem motivo, então tinha que haver um título apropriado e a hora certa, entre outras coisas, e é por isso que demorou um pouco para encontrar a oportunidade certa. Pareceu que agora era a chance, já que Violet Evergarden estava seguindo com um projeto como esse com mudança de diretor, e aí jogamos a ideia. Eu acho que o mundo deste trabalho é adequado para essa resolução… embora na verdade eu não tenha conseguido pôr em palavras o porquê, para explicar à equipe. No começo eu propus só dizendo “Vai ser muito bom! A gente consegue!” e os funcionários todos ao meu redor ficaram só olhando confusos. (risos) Depois que eu cheguei em cada setor com várias ideias e propostas, conseguimos trabalhar dessa maneira.
O que mudou no fluxo de trabalho quando você alterou o tamanho da tela?
Para mim, desenhar storyboards mais amplos era fácil. Quando fomos para o processo de animação, todos chegamos com plena consciência de que estender o comprimento horizontal também significava diminuir o lado vertical. Embora tenhamos tentado usar as folhas de layout da série de TV do mesmo jeito no filme, não conseguimos fazer funcionar direito. Quando você traz a câmera para trás, é preciso fazer os personagens parecerem menores, por isso criamos muitos designs de layout pensando assim. Mas isso cria outro problema: os designs para este trabalho contêm muitas informações e linhas; então um conceito aparentemente simples como reduzi-los de tamanho é um trabalho bem desafiador. Do ponto de vista técnico, nós avançamos enfrentando esses problemas e achando truques para contorná-los.
Esta foi a sua primeira vez participando das gravações de voz como diretora também. Sobre o que você conversou com o diretor de som (Yota) Tsuruoka-san e com o elenco?
Antes do início das gravações, eu fiquei na frente de todo mundo como diretora e me dirigi a eles… mas eu não sou boa em falar na frente de um monte de gente, então acabei só lendo as anotações que tinha escrito antes com tudo o que queria transmitir a eles. Aí Tsuruoka me provocou dizendo: “precisamos dos rascunhos ainda hoje?” (risos)
Quanto eu falei com eles, na verdade escrevi várias coisas que queria transmitir ao elenco, mas estava tão nervosa e ansiosa que só consegui falar sobre a direção do título no geral. Eu esqueci de falar dos personagens… Em um momento tão importante, eu encerrei meu discurso sem dizer nada sobre eles e sem dar nenhuma orientação adequada ao elenco. (risos) E mesmo assim (Minako) Kotobuki de Isabella e (Aoi) Yuuki de Taylor deram performances maravilhosas sem que eu explicasse nada a elas.
Não sou boa em escolher minhas palavras quando quero transmitir algo às pessoas, então sempre que precisávamos discutir algo, Tsuruoka esperava eu encontrar os termos adequados. A pressão pra conseguir acertar na primeira vez era tão grande que eu também acabei entrando no clima. Foi uma experiência tão valiosa para mim.
O que você acha dos visuais finalizados?
Sinto uma mistura de gratidão e inquietação. Eu dei tudo o que tinha! Não me arrependo! Estou confiante de que a equipe encheu esses visuais maravilhosos de muito amor!
Houve alguma história emocionante durante a produção?
Fiquei feliz demais, quando recebi uma carta da autora original Kana Akatsuki. Ela mandou uma carta para o endereço que eu tinha dado a todos como diretora dos storyboards para este trabalho, por isso foi uma surpresa encantadora receber uma resposta inesperada da própria autora. Fiquei muito grata por receber.
Os itens de bônus para quem for desta vez são histórias escritas pela própria Kana Akatsuki.
São histórias mesmo adoráveis. Embora eu adore os dois trabalhos, eu li a história de Isabella “Isabella York e a Flor Chuvosa” e me perguntei se talvez a forma como a visualizei era diferente da forma dela. Em cada história, todo mundo se conecta à Violet pelo amor. Ela escreveu uma monte de material novo para ser distribuído junto com este filme, por isso estou transbordando de sentimentos de gratidão por ela!
Para encerrar, você tem uma mensagem para todo mundo que veio assistir a este filme?
Assim como a série de TV de Violet Evergarden, essa história paralela Eternidade e a Boneca de Automemória é um conto sobre pessoas tão envolvidas em suas próprias emoções que não conseguem seguir adiante em sua vida cotidiana. Violet as trata com gentileza e elas conseguem seguir em frente novamente. Neste filme, há pessoas que se ressentem pelas mudanças em um mundo em evolução, aquelas que se apegam a sentimentos inabaláveis mesmo quando o mundo ao seu redor muda, e até algumas que ficam tão imóveis quanto o que as cerca, desejando felicidade apenas às outras. Eu queria retratar essas pessoas, cada uma vivendo com pensamentos e sentimentos diferentes em seus corações, todas com perspectivas próprias. Este trabalho mostra pessoas chegando à conclusão de que mantiveram emoções calorosas quanto a outras no passado, e que ainda mantêm carinho por esses momentos, mesmo que seus corações mudem com o tempo. Como também planejei algumas ligações entre este filme e o próximo filme continuação de Violet Evergarden, ficaria feliz se você assistisse a ele e trouxesse esses sentimentos consigo para o próximo filme.
FONTE: SakugaBlog
TRADUÇÃO: Arthur Bárbaro
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