“Estou pronto para ir até os confins da terra para fazer isso acontecer.” Quando essas palavras saem da boca de Usman Riaz, você sabe que ele está falando sério. Riaz é diretor de “The Glassworker”, a primeira animação de longa-metragem do Paquistão e cofundador da Mano Animation, um estúdio que ele e sua equipe construíram do zero para realizar seu sonho.
Durante o Annecy International Animation Film Festival deste ano, o site norte-americano Cartoon Brew entrevistou Usman Riaz que falou detalhes de sua inspiradora historia, dos desafios de montar um estúdio no Paquistão, além de sua profunda perseverança e quão perto eles estão de terminar “The Glassworker”.
Olhando para o preview de “The Glassworker” apresentado durante o festival, perceber a influência do Studio Ghibli no projeto é clara. Como Usman Riaz menciona na entrevista, “Studio Ghibli é uma grande inspiração. Eles são meus heróis”. Na verdade, Riaz possui muitos dos artbooks das produções de Hayao Miyazaki e Isao Takahata. “Aprendi muitas coisas sobre cinema com eles”, diz ele.
Semelhante ao método usado pelo próprio Miyazaki, Riaz desenhou todos os storyboards para “The Glassworker”. Embora ele seja rápido em explicar: “Eu não sou Hayao Miyazaki ou Mamoru Hosoda… eles são mestres em seu ofício. Embora eu tenha desenhado todo o storyboard, tínhamos um roteiro.”
Como forma de demonstrar o que eles conseguiram realizar até agora, a Mano Animation deu ao Cartoon Brew acesso exclusivo ao preview da produção que ainda se encontra no estágio de desenvolvimento, que foi exibido pela primeira vez durante o festiva de Annecy.
Discutindo como ele prioriza a história, Riaz descreve sua crença semeada em querer acertar todas as partes deste longa-metragem. “A história é fundamental. Eu amo animação. Eu amo o ofício, mas se a história é oca por trás da animação, então você tem um monte de fotos bonitas.”
Embora criar uma história rica e original seja uma coisa, montar um estúdio que lida quase que exclusivamente com métodos tradicionais de animação em um país sem tradição histórica nesta forma de arte é algo completamente diferente.
Para tanto, Riaz pediu às pessoas mais próximas a ele que se juntassem à empreitada, inclusive recrutando seu primo Khizer Riaz como produtor e sua amiga de infância Mariam Paracha como diretora de arte. Ambos compartilham de sua visão.
Paracha explica: “Usman tem uma tendência a atrair as pessoas e não deixá-las ir”. Juntos, eles abriram o estúdio e começaram a descobrir o que precisavam fazer para criar um longa de animação.
Khizer lembra: “Tivemos que descobrir tudo sozinhos. [Usman] aprendeu sozinho a fazer storyboard, Aamir – nosso diretor de animação – fez engenharia reversa de como fazer a animação. A produção fez o mesmo.”
Atrair talentos para trabalhar em animação 2D no Paquistão também não foi simples. A animação tradicional é uma área de trabalho difícil e altamente qualificada, e a equipe da Mano Animation ficou surpresa quando uma chamada para artistas atraiu respostas de médicos e dentistas dispostos a mudar de carreira para trabalhar na produção de “The Glassworker”.
Embora a resposta desses profissionais tenha sido notável, muitas vezes o maior desafio foi convencer seus pais de que uma carreira em animação é possível no Paquistão. Usman lembra que, “Às vezes, passávamos dias no estúdio com os pais chegando e avaliando o que estávamos fazendo, vendo se valia a pena para seus filhos se aventurarem e tentarem. É muito difícil pedir isso a alguém. Seu filho tem uma trajetória de sucesso e estamos pedindo que abandonem isso.”
A paixão que Riaz e sua equipe mostraram aos pais foi o que acabou convencendo muitos a permitir que seus filhos entrassem no estúdio. Como Usman lembra: “Um dos pais dos dentistas estava no estúdio e constantemente discutia conosco que isso não era uma boa ideia. Estávamos tentando convencê-lo dizendo: ‘Mas é, e seu filho é muito talentoso; por favor, deixe-a perseguir seu sonho e deixe-a vir trabalhar no estúdio.’ Após cerca de um dia de discussão com Khizer, Mariam e eu, ele saiu e disse à filha: ‘Você conhece esses caras? Eles parecem tão loucos e são tão loucos por esse ofício que o farão, então você deve trabalhar aqui.’”
“Espero que isso comece uma tradição no Paquistão, e possamos fazer mais produções como esta e incentivar mais crianças que querem ser médicos a se tornarem artistas”, diz Paracha. “Esse é o nosso sonho.”
Criar um longa-metragem de animação é uma forma de arte, mas a chave para o sucesso de qualquer produção é angariar fundos e, eventualmente, vender o produto final para distribuição global. Foi em uma cúpula em Karachi que a equipe conheceu Rashna Abdi, que os apresentou a seu amigo de faculdade, o principal produtor de animação espanhol Manuel Cristóbal (Wrinkles, Buñuel in the Labyrinth of Turtles). Paracha lembra: “Nós o pesquisamos no Google e pensamos: ‘Este é Manuel Cristóbal!’… Obviamente, sabíamos dele, porque [Wrinkles] foi o primeiro longa-metragem [internacional] adquirido pelo Ghibli e lançado no Japão”.
“Achei que seria apenas uma conversa educada, e aqui estamos”, ri Cristóbal em Annecy, onde se juntou à equipe de “The Glassworker”.
Ele agora atua como produtor executivo em “The Glassworker”. Diz Cristóbal: “Fiquei hipnotizado ao ver o trabalho de Usman; ele está tão comprometido. (…) Fomos aplaudidos de pé após a apresentação [em Annecy]. O que eu vi em Usman, sua equipe e em seu trabalho, foi algo que a plateia também viu.”
Produtor experiente, Cristóbal adverte que o talento só te leva até aqui. “Acho que isso é uma das coisas que o talento precisa entender. Além de puro talento, você tem que colocar seu sangue em suas produções.” Isso é algo que Cristóbal acredita que a equipe da Mano Animation faz todos os dias. De fato, na manhã do dia 20/06 após sua viagem a Annecy, a equipe voltou ao estúdio para continuar seu trabalho em “The Glassworker”.
Como Riaz diz: “The Glassworker é um trabalho de amor. É uma carta de amor as animações que cresci assistindo e amo. Espero que as pessoas encontrem algo que amem em The Glassworker quando o virem.”
A história de “The Glassworker” é ambientada em Waterfront Town, gira em torno de um jovem e talentoso vidraceiro chamado Vincent que trabalha na loja de seu pai, onde se apaixona por uma garota chamada Alliz, uma talentosa violinista que frequentemente visita a loja.
FONTE: Cartoon Brew
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