Frank Miller, chama sua luta contra o vício de ‘uma dança muito chata com a morte’

Antes da estreia do documentário “Frank Miller: American Genius” nos Estados Unidos, o renomado quadrinista fala em uma entrevista concedida à Vanity Fair, sobre sua luta contra o alcoolismo na época da estreia de “Sin City 2: A Dama Fatal”, em 2014.

“Meu vício era uma dança com a morte, mas era uma dança muito chata porque eram sempre os mesmos passos de dança o tempo todo”, diz Miller, de 67 anos, no documentário. “Me conheciam nos bares locais. Eu fazia o mesmo ritual toda manhã. Eu tinha um relógio no pulso e o principal propósito dele era me dizer quando os bares tinham aberto.”

O trabalho do artista no papel deixou uma grande marca na cultura popular. Ele escreveu histórias em quadrinhos como “Demolidor: A Queda de Murdock”, “Batman: O Cavaleiro das Trevas”, “Sin City” e “300 de Esparta”. Ele também escreveu o roteiro de “Robocop 2” e “Robocop 3”, lançados em 1990 e 1993 respectivamente.

No documentário, Miller, que escreveu e co-dirigiu “Sin City” e sua continuação, reflete sobre como o abuso de álcool o impactou artisticamente, dizendo que isso o afastou do desenho e o levou à escrita devido ao quanto afetou suas habilidades motoras.

“Notei que eu podia viver de escrever, e escrever de alguma forma flui muito mais facilmente quando embriagado”, diz Miller.

Logo ele descobriu que a droga depressiva “fez mal” para ele.

“Muito rápido você ou para de escrever, ou continua mas não fica bom. Houve uma fragmentação que acontece, muito parecida com a fragmentação da mente, onde as linhas não funcionam muito bem e as imagens não ficam mais tão simples ou coerentes quanto antes”, explica.

Miller diz que vivia com um “medo constante” e que estava “fora de controle”.

“De vez em quando, eu percebia que estava me matando, e queria obliterar esse sentimento da única maneira que conhecia, que era me apegar a algo que estava me matando. Não é racional. Eu não estava sendo racional. Era comigo, a forma como a doença funciona. Eu estava cometendo um suicídio lento. Na verdade, se tornou em suicídio rápido”, diz ele.

“O álcool foi uma forma desinibir e mergulhar em minha própria psique e trazer à tona, todos os tipos de monstros, mundos, anjos e demônios. Quando isso acontecia, parecia que tudo estava ótimo, tudo funcionando, estava ganhando todo reconhecimento que área tinha a oferecer, estava recebendo todas estas propostas para filmes e assim por diante. O que eu não percebi é que estava patinando cada vez mais rápido, em gelo cada vez mais fino.”

Refletindo sobre o outro lado da batalha, Miller diz: “A clareza é muito bonita. É muito útil. Ter controle das próprias faculdades não é nada além de lindo. Meu maior sentimento sobre vício é que é uma sensação bem doentia de perda de tempo.”

Ao longo de sua carreira, Miller trabalhou com Robert Rodriguez, Jessica Alba e Zack Snyder, todos os quais aparecem no documentário.

“Frank Miller: American Genius documenta a jornada única de um artista americano incomparável. O documentário explora a carreira de quase meio século do lendário artista e escritor de quadrinhos. Feito para seus fãs após uma experiência de quase morte, o documentário investiga a influência radical e definidora de Miller na arte, na narrativa e na cultura. Seguindo seu início em uma pequena cidade de Vermont, até chegar a Nova York, Hollywood e além; este documentário intimista analisa seus fracassos, sucessos, autodestruição e redescoberta.”