DUNA: Rebecca Ferguson, Timothée Chalamet e o diretor Denis Villeneuve falam sobre a produção da adaptação da clássica obra de Frank Herbert

Timothée Chalamet se lembra da escuridão. Era o verão de 2019, e o elenco e a equipe de Dune (Duna) haviam se aventurado profundamente nos desfiladeiros de arenito e granito do sul da Jordânia, saindo no meio da noite para que pudessem pegar o amanhecer diante das câmeras. A luz que derramava sobre os abismos dava à paisagem uma sensação de outro mundo. Foi para isso que eles vieram.

“Foi realmente surreal”, diz Chalamet. “Existem essas paisagens gigantescas, no qual você pode imaginar existir em qualquer outro planeta, menos na Terra.”

Timothée Chalamet (Paul Atreides) e Rebecca Ferguson (Lady Jessica Atreides)

Eles não estavam mais na Terra, de qualquer maneira. Eles estavam em um planeta mortal, seco e empoeirado, chamado Arrakis. No épico romance de ficção científica de 1965 de Frank Herbert, Arrakis é o único local conhecido do recurso mais vital da galáxia, a “Especiaria” que altera a mente e distorce o tempo e o espaço. Na nova adaptação cinematográfica, dirigida por Denis Villeneuve, cineasta de Arrival (A Chegada) e Blade Runner 2049, Chalamet é o jovem Paul Atreides, o proverbial estranho em uma terra muito estranha, que luta para proteger esse novo e hostil lar, enquanto ameaça destruí-lo. . Os seres humanos são os alienígenas em Arrakis. As espécies dominantes nesse mundo são imensos e vorazes vermes da areia que se escondem sob os montes áridos como dragões subterrâneos.

Para os infinitos mares de areia que dão título à história, a produção mudou-se para regiões remotas fora de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, onde as temperaturas rivalizavam com a ficção da história de Herbert. “Eu me lembro de sair do meu quarto as duas da manhã, estando provavelmente nos 37 graus” , diz Chamalet. Durante a filmagem , ele e os outros atores se trajaram do que no mundo de Duna se chamam “stillsuits” – uma armadura grossa, de borracha que preserva a umidade do corpo , até reunindo gotículas de ar exalados pelo nariz. Na história, esses trajes são revigorantes. Na vida real, são agonizantes. “A temperatura na filmagem chegava aos 48 graus”, diz Chamelet. “Eles põem um boné lá fora se fica quente demais. Eu esqueci qual a temperatura exata, você não consegue continuar trabalhando.” As circunstancias alimentaram a história na qual eles estavam lá para contar: “De um modo bem superficial, foi útil estar nas stillsuits e de estar naquele nível de exaustão”.

Não seria Duna se fosse fácil. O romance de Herbert se tornou uma pedra de toque de ficção científica na década de 1960, anunciada por seu subtexto ecológico e de construção do mundo, bem como por sua intrincada (alguns dizem impenetrável) trama focada em duas famílias que lutam pela supremacia sobre Arrakis. O livro criou ondulações que muitos veem em outras obras, de Star Wars a Alien e Game of Thrones. Ainda assim, há décadas, adaptar o romance se tornou um grande desafio. Nos anos 70, o cineasta experimental Alejandro Jodorowsky montou uma missão para filmar, mas Hollywood considerou o projeto muito arriscado. David Lynch levou Duna para o cinema em 1984, mas foi ridicularizado como uma bagunça incompreensível e uma peste em sua filmografia. Em 2000, uma minissérie adaptou Duna no que é agora o canal SyFy tornando-se um sucesso da emissora, porém atualmente é muito pouco lembrada.

“Eu não concordaria em fazer essa adaptação do livro com um único filme”, diz Villeneuve. “”O mundo é muito complexo. É um mundo que tem seu poder nos detalhes.”

Villeneuve pretende criar uma Duna que até agora só existia na imaginação dos leitores. A chave, diz ele, era quebrar a narrativa que se espalhava pela metade. Quando Duna chega aos cinemas em 18 de Dezembro, será apenas metade do romance, com a Warner Bros. concordando em contar a história em dois filmes, semelhante à abordagem do estúdio com Stephen King, em It e It Capítulo Dois. “Eu não concordaria em fazer essa adaptação do livro com um único filme”, diz Villeneuve. “O mundo é muito complexo. É um mundo que tem seu poder nos detalhes.”

Para Villeneuve, essa história de 55 anos sobre um planeta sendo minado até a morte não era apenas uma aventura espacial, mas uma profecia. “Não importa o que você acredite, a Terra está mudando e teremos que nos adaptar”, diz ele. “É por isso que este livro, Duna, foi escrito no século 20. Era um retrato distante da realidade do petróleo, do capitalismo e da exploração – a superexploração – da Terra. Hoje, as coisas estão apenas piores. É uma história de maioridade, mas também um apelo à ação para os jovens “.

Os membros da Casa Atreides

O personagem de Chalamet, Paul, acha que ele é apenas um garoto lutando para encontrar um lugar no mundo, mas ele realmente possui a capacidade de mudar isso. Ele tem um dom sobrenatural para aproveitar e liberar energia, liderar outras pessoas e se fundir com o coração de seu novo mundo natal. Pense em Greta Thunberg, só que ela é uma Jedi com um diploma de Hogwarts. Paul vem de uma poderosa família galáctica com um nome que soa como uma constelação – a Casa Atreides. Seu pai e mãe, Duqe Leto (interpretado por Oscar Isaac) e Lady Jessica (Rebecca Ferguson), levam o filho do seu exuberante mundo escandinavo para presidir a extração de especiarias em Arrakis. O que se segue é um confronto com a criminosa e politicamente ligada Casa Harkonnen, liderada pelo monstruoso Barão Vladimir (Stellan Skarsgård), um mamute com apetites impiedosos. O barão, criado com próteses de corpo inteiro, é como um rinoceronte em forma humana. Esta versão do personagem é menos louca e mais predadora. “Por mais que eu goste do livro, senti que o barão estava flertando com muita frequência com uma caricatura”, diz Villeneuve. “E eu tentei trazer a ele um pouco mais de dimensão. Por isso trouxe Stellan. Stellan tem algo nos olhos. Você sente que há alguém pensando, pensando, pensando – que tem tensão e está calculando por dentro, profundamente nos olhos. Posso testemunhar, pode ser bastante assustador.”

O diretor também expandiu o papel da mãe de Paul, Lady Jessica. Ela é membro da Bene Gesserit, uma seita de mulheres que podem ler mentes, controlar as pessoas com sua voz (novamente, precursora do Jedi Mind Trick) e manipular o equilíbrio de poder no universo. No roteiro, que Villeneuve escreveu com Eric Roth e Jon Spaihts, ela é ainda mais temível do que antes. A sinopse da trama do estúdio a descreve como uma “sacerdotisa guerreira”. Como Villeneuve brinca: “É melhor que uma freira espacial”.

O dever de Lady Jessica é entregar um salvador ao universo – e agora ela tem um papel maior na defesa e no treinamento de Paul também. “Ela é mãe, é concubina, é soldado”, diz Ferguson. “Denis era muito respeitoso com o trabalho de Frank no livro, [mas] a qualidade dos arcos para muitas mulheres foi levada a um novo nível. Houve algumas mudanças que ele fez, e elas são lindamente retratadas agora. ”

Em uma intrigante mudança no material de origem, Villeneuve também atualizou o Dr. Liet Kynes, o principal ecologista de Arrakis e um corretor independente de energia entre as várias facções em guerra. Embora sempre retratado como um homem branco, o personagem agora é interpretado por Sharon Duncan-Brewster (Rogue One), uma mulher negra. “O que Denis havia me dito era que havia uma falta de personagens femininas em seu elenco, e ele sempre foi muito feminista, pró-mulher e queria escrever o papel de uma mulher”, diz Duncan-Brewster. “Este ser humano consegue basicamente manter a paz entre muitas pessoas. As mulheres são muito boas nisso, então por que Kynes não pode ser uma mulher? Por que Kynes não deveria ser mulher?”

Oscar Isaac (Duke Leto), Zendaya (Chani), Josh Brolin (Gurney Halleck) e Rebecca Ferguson (Lady Jessica Atreides)

Como os fãs saberão, há uma vasta variedade de outros personagens que povoam Duna. Existem humanos chamados “Mentats”, superiores com mentes semelhantes a computadores. Paul é orientado por dois guerreiros bravos, Duncan Idaho e Gurney Halleck, interpretados por Jason Momoa e Josh Brolin respectivamente. Dave Bautista interpreta um sinistro executor de Harkonnen, Glossu Rabban, e Charlotte Rampling tem um papel fundamental como a “madre superiora” das Bene Gesserit. A lista continua. Nas áreas aparentemente inabitáveis de Arrakis, Javier Bardem lidera a tribo Fremen como Stilgar, e Zendaya co-protagoniza como uma mulher misteriosa chamada Chani, que assombra Paul em seus sonhos como uma visão com brilhantes olhos azuis.

A amplitude de Duna é o que tornou tão árdua a tarefa para os outros adaptarem a obra. “É um livro que aborda política, religião, ecologia, espiritualidade – e com muitos personagens”, diz Villeneuve. “Eu acho que é por isso que é tão difícil. Honestamente, é de longe a coisa mais difícil que fiz na minha vida.” Depois de terminar este primeiro filme, ele terá que começar tudo de novo.