Darling in the FRANXX” (“ダーリン・イン・ザ・フランキス”), sem sombra de dúvida uma das séries mais comentadas da Temporada de Inverno de animações japonesas do primeiro semestre de 2018, rapidamente caindo nas graças do público japonês e posteriormente do restante do mundo.
A série estreou no dia 13 de janeiro e foi concluída no dia 07 de julho com um total de 24 episódios produzidos pela parceria entre os estúdios Trigger e CloverWorks, uma das várias produções do gênero MECHA que surgem a cada nova temporada ao longo de tantos anos na história das animações japonesas. Ou pelo menos é o que deveria ser!
Darling in the FRANXX bebe muito na fonte de séries consagradas como Gundam, Evangelion e Eureka SEVEN, sem a mínima vergonha e muita coragem, sem querer “reinventar a roda”, e como resultado de seu sucesso comercial traz para si todos os prós e contras que as pessoas irão lançar sobre seu conteúdo.
Se você acompanhou alguma das séries citadas acima, não vai ver nada de inovador em Darling in the FRANXX na verdade em alguns pontos ela fica muito aquém das obras que a influenciaram, muito provavelmente se você é um espectador mais exigente e criterioso vai achar a série apenas um “mais do mesmo” e não vai estará errado nessa avaliação. Muito do “hype” da série é calcado em uma geração que sequer assistiu Evangelion ou Eureka SEVEN, então também podemos dizer que Darling in the FRANXX para muitos é (e será por um bom tempo) uma referência dentro do gênero. Mesmo achando um exagero é compreensível o sucesso em torno da série.
Uma opinião muito comum entre algumas pessoas que consultei a respeito da série é quase uma unanimidade, ela demora muito para se tornar interessante. Mas justamente porque muito do que ela apresenta em seus primeiros episódios são formulas e referências que espectadores mais antigos já viram.
Independente dos responsáveis pela série terem usado clichês que vão desde o uso do “fan servisse” até alguns perfis de personagens já preestabelecidos em inúmeras obras, Darling in the Franxx tem seus méritos, que apenas não são vistos por aqueles que preferem ser preguiçosos e ver tudo de forma superficial, potencialmente polêmica ou “lacrável”.
Acredito que um dos grandes erros que nós temos ao analisar produções japonesas, é o simples fato de não procurar levar em consideração a visão que o povo japonês tem sobre a obra que estamos analisando. É muito gratuito rotularmos uma obra de “piegas”, simplesmente por que nós temos valores muito diferentes dos deles.
A série aborda temas interessantes e até muito contemporâneos, mas talvez seu maior pecado (ou virtude) é apresenta-los de maneira sutil, ou superficial. Perceptíveis para um expectador mais atencioso, o que muito provavelmente não seja a base de seus fãs. Enquanto outras questões são apresentadas de forma aberta e muito direta, o que sem dúvida explica muito de carisma entre aqueles que apreciam a série.
Darling in the FRANXX é uma clássica distopia, se você nunca teve a curiosidade de saber o significado do termo, eis sua definição mais comum:
“Distopia ou antiutopia é o pensamento, a filosofia ou o processo discursivo baseado numa ficção cujo valor representa a antítese da utopia ou promove a vivência em uma “utopia negativa”. As distopias são geralmente caracterizadas pelo totalitarismo, autoritarismo, por opressivo controle da sociedade.”
Agora que o termo ficou claro, fica um pouco mais fácil (ou menos complexo) compreender a história de Darling in the FRANXX.
A História
Num futuro próximo da primeira metade do século XXI a humanidade começa a cumprir sua sina de pagar o caro preço pela degradação do meio ambiente e abuso dos recursos naturais. Quando um misterioso grupo de cientistas cuja origens ou nacionalidades são desconhecidas cria a organização “APE”, eles desenvolveram uma tecnologia de mineração revolucionária para extrair energia magmática do subsolo, criando uma nova fonte de energia de baixo custo e abrangente. Este avanço deu grande influência à APE na economia e na política internacionais, e acelerou o desenvolvimento da civilização humana.
Em 2025, o cientista Werner Frank foi contratado pela APE para pesquisar a imortalidade humana. Sua pesquisa foi bem-sucedida, inicialmente permitindo que os ricos se tornassem imortais ao custo de perder suas funções reprodutivas. Por fim, a opção tornou-se universalmente disponível. No entanto, o uso pesado de energia magmática foi à custa de uma crescente desertificação do planeta levando à humanidade a abandonar a superfície da Terra para a relativa segurança das cidades-fortalezas móveis conhecidas como “Latifúndios” (Plantations).
No ano de 2037, surgem os “Urrossauros” (Klaxosaurs) para atacar as usinas responsáveis pela extração e refinamento da Energia Magma, obrigando Werner Frank a desenvolver as unidades “FRANXX” que se tornam funcionais apenas cinco anos depois do primeiro ataque. Houveram várias tentativas fracassadas de completar o desenvolvimento das unidades FRANXX, que custaram muitas vidas, incluindo a da esposa de Werner.
Frank sempre teve medo que a oferta de imortalidade oferecida pela APE viesse a custar muito caro para humanidade, medo este que diante da ameaça dos Klaxosaurs se tornou uma terrível realidade. Em busca da imortalidade os humanos abriram mão de suas capacidades reprodutivas, o que obrigou Frank e a APE a criarem geneticamente crianças para pilotarem as unidades FRANXX, já que era impossível para um adulto desprovido de suas funções plenas, suportar pilotar e estar conectado ao sistema neural de uma FRANXX simultaneamente.
A partir desse momento surgem os Parasites, crianças que tem como única função pilotarem as unidades FRANXX para proteger os adultos da extinção. Totalmente alheios ao mundo real estas crianças são doutrinadas a proteger uma sociedade que as vê apenas como peões descartáveis
Cada Latifúndio possui um Mistilteinn, uma espécie de jardim construído para que, isoladamente, essas crianças pudessem desenvolver as respostas emocionais necessárias para pilotar uma FRANXX.
É neste momento que somos apresentados os Esquadrão 13 responsável por defender o “Latifúndio 13 – Cerasus”, formado por crianças supervisionadas secretamente pelo Dr Wener Frank, elas foram as únicas a terem o direito de adotarem nomes próprios além de seus códigos de identificação e pilotarem unidades FRANXX personalizadas.
A trama principal da série se desenrola a partir do conturbado relacionamento entre o Parasite Hiro (Código 016) e a misteriosa Zero Two (Código 002). Ele um jovem cadete prestes a ser descartado por sua inaptidão para pilotar uma Unidade FRANXX ao lado de sua parceira e ela uma “Pistilo” criada pelo próprio Dr Wener Frank, a partir da mescla do DNA humano e dos Urrossauros, conhecida por causar a morte de qualquer Parasite após três missões pilotando a Unidade FRANXX Strelizia.
Tudo gira em torno das relações e crises envolvendo os dois protagonistas da série e os demais membros do Esquadrão 13, que não deixam de ser interessantes e relevantes para o desenvolvimento da história. Numa espécie de “protagonismo coletivo” que vem se tornando cada vez mais comum em várias produções. O que na minha opinião faz com que as histórias possam ter mais relevância ao darem a outros personagens um protagonismo momentâneo em relação a trama principal e que por fim tem como objetivo dar uma maior pluralidade aos coadjuvantes oferecendo assim um alivio aos protagonistas, expondo ao espectador da trama (quando bem feito) um conteúdo menos maniqueísta.
Cada membro do Esquadrão 13 tem seu espaço e motivações apresentados de maneira muito orgânica, o que se torna o ponto mais positivo da série.
Um reflexo da sociedade japonesa em meio a polêmicas e clichês
Mesmo sendo um sucesso da temporada de inverno e recebido aprovação de boa parte do público Darling in the FRANXX não ficou imune a críticas, apesar de acreditar que algumas delas sejam pertinentes.
É inegável a existência de uma temática potencialmente sexual na obra, porém é muito importante tentarmos ter um mínimo de curiosidade de procurar entender como isso é visto e percebido pelos japoneses.
A sociedade japonesa em vários sentidos é muito mais desenvolvida que a nossa, além do inegável fato que é um povo muito mais educado, unido e com um senso de coletividade muito forte. Mas também tem seus defeitos que em muitos casos podem parecer risíveis, quando vistos superficialmente.
Para quem conhece um pouco da sociedade japonesa, vai conseguir traçar alguns paralelos entre a realidade e o futuro distópico de Darling in the FRANX.
Um futuro onde a coletividade está acima dos desejos individuais, pela promessa de um bem maior é algo muito natural e aceitável para muitos japoneses. Na série somos apresentados a uma visão distorcida desse conceito potencializado da pior forma nos ideais da APE.
Um popular “Kotowaza” (provérbio japonês) diz:
“O prego que se destaca é martelado para baixo”
A mais popular das interpretações desse provérbio é que pessoas que chamam a atenção para se, estão sujeitas a críticas, mas também pode ser uma visão negativa daqueles que não se adequam ou se submetem ao sistema aceito como normal.
Na sociedade japonesa pessoas que procuram correr atrás de seus objetivos tendem a se destacar, porém diferente do que nós possamos achar comum ou obvio, isso também traz (ou pode ter) consequências negativas, pois para muitas pessoas você está tendo uma visão e atitudes egoístas. Simplesmente pelo fato de não se importar com as pessoas ao seu redor.
Vendo essa situação aos nossos olhos ela não chega a ser algo tão relevante, mas uma conduta egoísta para os japoneses tende a ser visto de forma negativa, principalmente para os mais conservadores e tradicionalistas.
No episódio 22 esse dilema é posto à prova no diálogo entre Hiro e Goro, quando o protagonista decide ir ao espaço para cumprir a promessa feita à sua amada, porém o momento é extremamente delicado já que todos precisam se unir no momento mais difícil de reconstrução da sociedade humana.
Outro ponto muito forte (talvez o principal e mais cativante) dentro da trama são as relações entre os personagens, principalmente no que se diz respeito às suas emoções e sentimentos, sejam eles correspondidos ou não. Todos em maior ou menor grau espelham muito do que (pouco) conhecemos das relações pessoais entre os japoneses e principalmente do como eles lidam com as frustrações desse processo.
E se você acredita que isso é um exagero, basta fazer uma pesquisa apurada para descobrir o quanto o desinteresse afetivo e sexual pode ser danoso a uma sociedade. Mesmo uma tão evoluída quanto a japonesa.
Mesmo que essa seja uma interpretação muito particular da obra, podemos ter certeza que mesmo que os criadores de Darlin In The FRANXX não pensaram em todas essas contestações e reflexões de sua própria sociedade. Provavelmente é muito mais salutar para nós, procurar entender um pouco mais sobre a sociedade japonesa e fazer nossas próprias ponderações sobre seus méritos e custos que está “evolução” pode cobrar de toda uma nação.
Darlin In The FRANXX mesmo tendo seus deslizes gera muito mais perguntas, o tipo de perguntas que valem à pena encontrar as respostas. Basta ir um pouco além das polêmicas e do mero “fan service”.
Você pode assistir a todos os episódios de Darling In The FRANXX no Crunchyroll Brasil.
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