As Bruxas da Noite
Tudo começou na jornada histórica de 21 de junho de 1941, quando a população soviética foi surpreendida por um inesperado ataque alemão. Em seguida, o governo soviético convocou todos os cidadãos a servirem no Exército Vermelho, na Marinha e nos poderosos falcões da Força Aérea Soviética. Essa convocação foi prontamente atendida pelas jovens estudantes do Instituto de Aviação. A princípio, houve resistência de que as mulheres participassem diretamente do combate, na primeira linha do Exército Vermelho, pois já trabalhavam como enfermeiras, cavando trincheiras ou construindo bunkers. Apesar disso, Marina Raskova que contou com apoio do premiê soviético Josef Stálin iniciou a formação de três unidades militares aéreas de mulheres com o mesmo treinamento e formação que ela como instrutora da Academia Aérea Zhukovski dava aos homens.
Marina Raskova criou o 586º Regimento de Caças Yak-1, o 587º Regimento de Bombardeiros de Mergulho Bimotor e o 588° Regimento de Bombardeiros Noturnos
Embora todos os três regimentos tenham sido planejados para terem exclusivamente mulheres, apenas o 588° permaneceria exclusivamente feminino durante toda a guerra. O 586º Regimento teve de empregar mecânicos masculinos já que nenhuma mulher tinha recebido formação para trabalhar em aviões de combate Yakovlev antes da guerra. A comandante do 586º, a Major Tamara Aleksandrovna Kazarinova, foi substituída por um homem, o major Aleksandr Vasilievich Gridnev, em outubro de 1942. O 587º Regimento foi originalmente comandado por Marina Raskova, mas depois de sua morte, em 1942, um comandante, Major Valentin Vasilievich Markov, a substituiu. Os bombardeiros de mergulho Petlyakov Pe-2 do 587° também requeriam uma pessoa de altura suficiente para operar a metralhadora traseira superior, mas não havia mulheres altas o suficiente entre as recrutadas, sendo necessários alguns homens para unir-se a tripulação como operador de rádio/artilheiro de cauda
O 588° Regimento de Bombardeiros Noturnos, criado por Marina Raskova e dirigido pela major Yevdokia Bershanskaya, foi formado inteiramente de mulheres voluntárias no fim da adolescência e início dos vinte anos.
As aeronaves utilizadas pelo regimento eram os biplanos Polikarpov Po-2 de madeira e lona, um modelo de 1928 originalmente usado como avião de treinamento e pulverização de culturas e até hoje o biplano de estrutura de madeira mais produzido na história da aviação. Os aviões podiam levar apenas seis bombas ao mesmo tempo, então por muitas vezes foram necessárias oito ou mais missões por noite. Embora a aeronave fosse obsoleta e lenta, as pilotos fizeram uso ousado de sua excepcional capacidade de manobra; elas tinham a vantagem de ter uma velocidade máxima que era menor do que a velocidade de estol tanto do Messerschmitt Bf 109 quanto do Focke-Wulf Fw 190, e, como resultado, os pilotos alemães tinham muita dificuldade em derrubá-las.
A técnica de ataque adotado pelas pilotos do 588° Regimento de Bombardeiros Noturnos, era a aproximação do alvo em marcha lenta (Idle) e planar para o ponto de liberação das bombas, com apenas o ruído do vento passando pelas asas dos frágeis Polikarpov Po-2 a revelar sua localização, devido ao peso das bombas e à baixa altitude do voo, as pilotos não utilizavam paraquedas durante as missões. O pânico se apoderou dos alemães, tanto pela precisão dos ataques como pelo rumor que os acompanhavam: os pequenos aviões noturnos eram pilotados por mulheres! Os alemães compararam o som emitido pelos aviões enquanto planavam sobre suas cabeças ao de vassouras usadas por bruxas descrito em contos infantis e folclóricos, batizando as pilotos de“Nachthexen”, em russo “Nochnye Vedmy”as Bruxas da Noite..
A partir de junho de 1942, o 588º Regimento de Bombardeiros Noturnos tornou-se parte do 4º Exército do Ar. Em fevereiro de 1943, o regimento foi homenageado com uma reorganização no 46º Regimento de Aviação de Bombardeiros Noturnos da Guarda, e em outubro de 1943, tornou-se o 46º Regimento de Aviação de Bombardeiros Noturnos da Guarda “Taman”; “Taman” é uma referência ao envolvimento da unidade em duas famosas vitórias soviéticas na Península de Taman durante 1943.
Seu protagonismo era incontestável, desde a realização de tarefas militares até a presença em momentos históricos, como a resistência à invasão do exército nazista em Stalingrado. Naquela ocasião, elas demonstraram para sempre que as “Bruxas da Noite” estavam em igualdade de condições com os homens. O desempenho dessas aviadoras, jovens soviéticas voluntárias, algumas quase adolescentes, foram primordiais na batalha do Cáucaso e nas libertações da Crimea, Bielorrússia, Polônia e na batalha final da Alemanha.
O regimento voou em missões de bombardeio de assédio e bombardeio de precisão contra o exército alemão, a partir de 1942 até o final da guerra. No seu auge, ele tinha 40 equipes de duas pessoas. Foi a unidade cem por cento feminina mais condecorada da Força Aérea Soviética, cada piloto voado em mais de 800 missões, totalizando 23.000 incursões, lançando 3.000 toneladas de bombas. tendo 30 de suas integrantes mortas em combate. Com o fim da guerra vinte e três delas foram condecoradas com o título de Heroína da União Soviética.
Dentre as destemidas integrantes das Bruxas da Noite destaca-se a Tenente Irina Fyodorovna Sebrova, ela ingressou no Exército Vermelho em outubro de 1941, ela completou seus estudos de aviação militar em Engels e posteriormente foi designada para o 588º Regimento de Bombardeiros Noturnos em 1942.
Durante a guerra, ela voou em 1.008 missões, após 825 destas assim como suas companheiras de regimento foi condecorada com o título de Heroína da União Soviética, em 23 de fevereiro de 1945, além desta honraria Irina Sebrova ainda foi condecorada com a Ordem de Lenin (23 de fevereiro de 1945), por três vezes a Ordem da Bandeira Vermelha (19 de outubro de 1942, 26 de abril de 1944, 15 de junho de 1945), a Ordem da Guerra Patriótica 1ª e 2ª classes (11 de março de 1985 e 27 de abril de 1943) e a Ordem da Estrela Vermelha (8 de outubro de 1943). Sebrova se aposentou da Força Aérea em 1948, ingressando no Instituto de Aviação de Moscou. Faleceu em 5 de abril de 2000 e está enterrada no cemitério de Rakitin.
Apesar dos soviéticos parecem progressistas em relação a participação de mulheres diretamente no campo de batalha (as snipers soviéticas eram tão temidas e letais quanto as Bruxas da Noite, talvez até mais) diferente dos exércitos dos Aliados que relegavam as mulheres a trabalhos burocráticos e de suporte, porém sem a mínima possibilidade de combaterem no front.
A verdade é que o preconceito para com as mulheres e insatisfação com o decreto de Stalin para formação de regimentos femininos durante o confronto não era segredo nenhum. A vencedora do Prêmio Nobel de Literatura de 2015, Svetlana Alexiévich apresentou em seu livro “A Guerra não tem rosto de Mulher” a realidade de centenas de mulheres que combateram nas forças soviéticas durante a Segunda Guerra Mundial, realizando entrevistas com ex-combatentes e sua realidade após o término do conflito.
Apesar de todos os esforços e conquistas da mulheres no front de batalha, sua participação foi desprezada pelo governo soviético após o fim da Segunda Guerra Mundial, a tal ponto que nenhuma mulher teve o direito de participar dos desfiles em comemoração pela vitória em Moscou, ironicamente por decreto do mesmo Stalin que anteriormente também por meio de decreto autorizou o ingresso de mulheres no Exército Vermelho.
Somente a partir de 1953 após a morte de Josef Stálin foi que o reconhecimento e valorização do esforço por parte das mulheres soviéticas foi amplamente divulgado, garantindo para futuras gerações seu exemplo de coragem e determinação frente aos horrores da guerra.
Infelizmente a série Battlefields ainda não foi publicada no Brasil, porém a série continua a ser publicada pela Dynamite Entertainment e pode ser encontrada facilmente em sites especializados e pela Amazon.
Em 1981 foi lançado o filme “O Céu das Bruxas da Noite” (V nebe ‘Nochnye vedmy’) do diretor russo Yevgeniya Zhigulenko que narra a historia do 588º Regimento de Bombardeiros Noturnos , em 2012 foi exibida a série “Night Swallows“ (Ночные Ласточки) produzida pela Star Media, as duas produções podem ser encontradas facilmente no YouTube, infelizmente sem legendas em português.
Na literatura existe um grande número de livros dedicados a historia das aviadoras soviéticas (em sua maioria escritos em inglês) do escritor Bruce Myles os livros “Night Witches: The Amazing Story of Russia’s Women Pilots in WWII”, “Night Witches: Untold Story of Soviet Women in Combat”, “Night Witches: Russia’s Women Pilots in Ww II” e “Sorcieres de la nuit -les”, de Bruce Berglund e Trevor Goring “Night Witches at War: The Soviet Women Pilots of World War II”, de SJ McCormack “Night Witch”, de Fergus Mason “Night Witches: A History of the All Female 588th Night Bomber Regiment “, de Emma Gee “The Night Witches-Combat Pilots WWII-Heroines of the Soviet Union”, de Mirren Hogan “Night Witches”, de Kathryn Lasky “Night Witches: A Novel of World War Two”e de Aimie K. Runyan “Daughters of the Night Sky”. A quantidade de obras é farto e bastante variado, o que contribui muito para a busca de informações a respeito das integrantes do 588º Regimento de Bombardeiros Noturnos.
O jornalista e escritor Alberto Cruz escreveu o livro “Bruxas da Noite” onde narra as batalhas do marco da Segunda Guerra Mundial, das quais participaram 263 aviadoras soviéticas do 46º Regimento “Taman”, deixou registrado no início do livro a seguinte frase : “Nem se pudéssemos recolher todas as flores do mundo e colocá-las aos seus pés, seríamos capazes de expressar toda a nossa admiração por elas.”
FONTE: Dynamite Entertainment, Incrível Historia, History, Wikipédia, Hoje na Segunda Guerra Mundial
TRADUÇÃO: Arthur Bárbaro, Roberto Gomes
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